Conjuntura: mesmo com pleno emprego, falta mão de obra qualificada

A reunião mensal do Comitê de Avaliação da Conjuntura da ACSP, a quinta do ano, aconteceu na quinta-feira (29) e, mais uma vez, revelou o desempenho dos diversos setores da economia brasileira e mundial, com análises sobre políticas econômicas e a visão dos empresários. A reunião foi conduzida pelo economista e professor Edward Launberg, com a participação do presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine, e do economista-chefe do Instituto de Economia Gastão Vidigal, Marcel Solimeo.

Comércio Eletrônico

O segmento do comércio eletrônico vem apresentando crescimentos sucessivos a cada ano. Segundo relatório da Nielsen E-Beat, em 2024, o e-commerce cresceu 19,1%, representando um total de R$ 351,4 bilhões em vendas. No varejo restrito (presencial), foram R$ 2 trilhões e 335 bilhões no Brasil. No e-commerce, o aumento do número de consumidores em relação a 2024 foi de aproximadamente 16%, e, se considerado o varejo total (incluindo lojas físicas), o e-commerce teve uma participação de 15%, com mais de 24 milhões de consumidores no Brasil.

Os números também indicam uma forte aceleração do grupo de lojas que vendem exclusivamente online, além do fortalecimento dos grandes marketplaces, que vêm apresentando crescimento no número de consumidores, especialmente considerando a acelerada digitalização das novas gerações, que já demonstram uma concentração de consumo nos meios digitais. No entanto, alguns sites internacionais sofreram redução no número de consumidores, e segmentos como tecnologia, celulares e computadores apresentaram queda, o que pode ser explicado pela valorização do dólar e pela cobrança de mais impostos (taxa das blusinhas), resultando em aumento de preços para o consumidor. Para 2025, espera-se um crescimento do e-commerce em torno de 10%.

Indústria

Março foi um mês positivo, segundo a análise do Comitê, mas já há uma perspectiva de desaceleração. O crescimento de março de 2025 em relação ao mesmo mês de 2024 demonstrou um aumento considerável, embora impactado pelas diferentes datas de eventos e feriados. O primeiro trimestre de 2025, em relação ao ano anterior, cresceu 1,9%.

O setor industrial é liderado pelos segmentos dependentes de crédito, e, mesmo com os juros altos, alguns continuam crescendo, como os bens duráveis e outros setores com comportamento setorial disperso. O mercado automotivo demonstrou crescimento de 3,8% no primeiro trimestre, com forte aumento nas exportações, especialmente para a Argentina. O crescimento de 69% no mercado de trabalho também teve impacto. No entanto, março apresentou queda no mercado de trabalho em comparação a fevereiro. Os dois últimos meses mostraram redução do déficit e da atividade econômica.

A preocupação com o IOF e o aumento do custo do crédito também impactam o setor industrial. A indústria de transformação extrativa cresceu 1,5% de janeiro a março de 2024. Apesar dos dados do Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados (CAJED), que indicam aumento das vagas e situação de pleno emprego, o crescimento de postos de trabalho não condiz com o índice de confiança em baixa dos empresários. O menor número de empresas falando sobre crescimento de investimentos, e mais empresas mencionando negócios abaixo das expectativas, sinaliza uma percepção de queda no setor, embora ainda existam dados positivos de aumento de exportações, especialmente no setor automotivo para a América Latina.

Agroindústria

Problemas de crédito, insolvência e inadimplência vêm impactando o agronegócio. Espera-se que a securitização do crédito agrícola prometido pelo governo seja implementada. Apesar disso, o otimismo em relação ao setor não diminuiu, com perspectivas de aumento da produção de algodão, milho, soja, cana, entre outros. Além disso, espera-se aumento de investimentos no café e no cacau. Contudo, há certa apreensão devido à instabilidade provocada pelo efeito Trump, sem uma previsão clara sobre as taxas de importação. De qualquer forma, não se perdeu a expectativa de investimentos em expansão da produção e logística. Por outro lado, empresas que estavam acelerando a produção enfrentaram problemas de insolvência e recuperação judicial devido ao excesso de investimentos. Ainda assim, o setor acredita que continuará a crescer.

A variação do câmbio deve ser monitorada, pois impacta diretamente na lucratividade do setor. Outro problema é a falta de mão de obra especializada, resultado da rápida industrialização brasileira, que provocou um "gap" na formação de profissionais qualificados. A aprovação ou não do IOF também gera incertezas, já que o imposto é visto como regulatório e sem justificativa clara, sendo utilizado pelo governo para equilibrar o resultado fiscal. Em relação à gripe aviária, a situação está sob controle, visto que o Brasil é um dos países mais preparados para conter a epidemia. Alguns países já retomaram as compras de ovos e frangos do Brasil, com exceção do Rio Grande do Sul. Após esse período, o segmento de frango e ovos deverá se consolidar como principal fornecedor para a Ásia e os Estados Unidos.

Serviços

Os jovens não querem empregos tradicionais (CLT); preferem criar empresas digitais e utilizar meios tecnológicos para oferecer seus conhecimentos através de seus próprios negócios, muitos com grande sucesso. Isso tem impactado positivamente o crescimento do comércio e da economia, além de provocar uma migração de mão de obra e ofertas de serviços para o mundo digital, efeitos que ainda estão sendo avaliados. A migração da mão de obra jovem preocupa o setor, que já enfrenta falta de profissionais qualificados. Além disso, persistem dúvidas sobre questões trabalhistas, que ainda geram insegurança jurídica em relação às escalas de trabalho. Para os empresários, questões como a jornada 6x1 devem ser negociadas.

Cenários

No cenário do crédito, o impacto da Selic pode sofrer aumento com a aprovação do retorno do IOF. Na verdade, é uma política monetária que não deveria ser de responsabilidade do governo. O aumento do IOF tem mais a ver com a necessidade de arrecadação para ajustar o orçamento sem aumentar as despesas, especialmente considerando as eleições de 2026. O IOF, na aplicação dos fundos no mercado global, pode interferir no câmbio. Apesar de o Brasil atingir o pleno emprego, a aprovação do imposto pode levar à redução do PIB e afetar especialmente as pequenas e médias empresas. Existe uma grande imprevisibilidade pela frente. O governo quer aumentar os gastos, enquanto o ministro da Fazenda tenta controlar. A expectativa é de que o Congresso insista e o governo consiga reduzir os gastos sem aumentar os impostos. De qualquer forma, espera-se uma queda no crescimento. O nível atual da taxa de juros é insustentável.

O novo consignado CLT pode aumentar o poder de consumo e ajudar a mitigar a redução da confiança do consumidor, que está no campo pessimista, abaixo de 100 pontos, apontando uma queda no desempenho do setor, apesar do aumento no custo de vida, da queda na margem de rendimento e da possível redução na geração de empregos. A resiliência do mercado de trabalho, no entanto, continua.

Internacional

Países parceiros tradicionais dos EUA, como o Canadá, estão sob pressão e perdendo as vantagens das antigas parcerias, o que os fará se voltar mais para a Europa. No entanto, ainda não há uma solução para os conflitos na Rússia e no Oriente Médio, sem perspectiva de uma solução rápida.

PIB

Os sinais de desaceleração do PIB ainda são pouco claros e devem se tornar mais evidentes a partir do segundo semestre do ano. A previsão de crescimento é de 2,1%. Contudo, há opiniões contraditórias sobre o assunto.

Por ACSP - 02/06/2025