Temas em Análise nº 346: Varejo Frustra as Expectativas em Março, Sugerindo Início da Desaceleração

Varejo Frustra as Expectativas em Março, Sugerindo Início da Desaceleração

 

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em março, as vendas do varejo restrito (que não incluem veículos, material de construção e “atacarejo”) registraram alta de 0,8%, em termos mensais, livres de efeitos sazonais, abaixo das expectativas de mercado (+1,0%). Na comparação com o mesmo mês do ano passado, houve queda de 1,0%, e, no acumulado em 12 meses, o crescimento alcançou a 3,1% (ver tabela abaixo), levemente acima de nossa projeção (2,9%- ver gráfico na página seguinte), ante 3,6% anotado na leitura anterior. As vendas do varejo ampliado (que inclui todos os segmentos) também apresentaram alta (1,9%) menor do que a esperada em termos mensais com ajuste sazonal (2,4%), contração interanual (-1,2%) e desaceleração em 12 meses (3,1%).

Na comparação interanual, o comportamento dos segmentos do varejo restrito foi heterogêneo: houve aumento das vendas de móveis e eletrodomésticos; tecidos, vestuário e calçados e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, e contração do volume comercializado de outros artigos de uso pessoal e doméstico; equipamentos e material de escritório, informática e comunicação; hipermercados e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo; combustíveis e lubrificantes e livros, jornais, revistas e papelaria. Contudo, os itens que apresentaram expansão desaceleraram em relação à leitura anterior. No varejo ampliado, veículos e “atacarejo” mostraram quedas, enquanto material de construção apresentou elevação menos significativa do que no mês de fevereiro.

O desempenho do varejo mais fraco do que o esperado em março se explicaria pela menor geração de empregos e pelo menor crescimento da renda, ocorridos na margem, num contexto de inflação de alimentos elevada e alto grau de endividamento das famílias. Tanto os resultados interanuais como em 12 meses sugerem o início da desaceleração.

Em síntese, em março, o varejo como um todo frustrou as expectativas. Os aumentos de renda proveniente do trabalho, das transferências e o reajuste do salário mínimo parecem não ser suficientes para evitar a perda de ritmo do consumo, que já era esperada. No momento, essa perda de ritmo se explicaria principalmente pelas quedas das vendas de hiper e supermercados e do “atacarejo”, setores muito influenciados pelos preços de alimentos e pela renda. Ao longo do ano, os aumentos da taxa de juros devem afetar negativamente os segmentos mais dependentes de financiamento. Por todos esse motivos, prevemos uma desaceleração nas vendas do varejo restrito durante os próximos três meses, terminando junho com crescimento em 12 meses de 1,6%. Essa desaceleração, contudo, poderá ser menor, dependendo dos efeitos do novo consignado sobre a oferta de crédito e do arrefecimento da inflação de alimentos que seria provocado pela nova safra recorde.

 

Por IEGV - Instituto de Economia Gastão Vidigal - 21/05/2025